quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Réquiem


[em memória de Zilda Franzini Fontana]

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu." Eclesiastes 3:1



- Beijo, tchau!
- Ô! Vai aonde?
- Pra casa, meu ônibus sai daqui a cinco minutos...
- NÃO! EU NÃO DEIXO!
- Por favor, minha mãe vai ficar sozinha lá em São Paulo?
- Mas eu não quero!
- A gente se vê mês que vem. O Natal vai ser lá!
- Mas eu já tô com muita idade...
- Dá cá mais um abraço. Até mês que vem.

            Falávamos aqui em fechar o ano. Novamente 2011 é melhor que 2010, para mim. Ano passado perdi um “quase-parente” (primo-do-marido-da-irmã-da-avó é complicado de explicar) que me carregou no colo todos os dias, durante a infância, É difícil, é quase estúpido ficar sabendo que alguém que participou da formação do seu caráter, radiante na meia-idade, de repente “parou de funcionar”. Simplesmente não está mais lá. Adicione-se a isso o desencontro de quase vinte anos, e uma cidade alagada no dia do funeral, e o que resta é um vazio e uma frustração infinitas.
            Mas hoje não. Porque ela se despediu. Porque sabíamos que era inevitável. Porque houve reconciliação. Reencontros. Claro que ainda daria tudo para poder sentar ao seu lado e segurar sua mão novamente. Mas, parafraseado um amigo, ela soube habilmente colocar pontos finais, ainda que de forma tardia, em todas as frases interrompidas e mal pronunciadas ao longo de meus vinte e seis anos.
            Pergunto: o que temos deixado em suspenso? Adiado, mal resolvido, pendente? O poeta Manuel Bandeira diz, em Consoada:

"Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar."



            São Paulo, prevendo sua morte, diz:: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda." (2 Timóteo 4:7)


            Lembra-me o testemunho do afamado pregador Dwight L. Moody, que em certa ocasião concedeu uma semana para que o povo pensasse em seu sermão. Sentiu-se atormentado durante muitos anos, pois grande parte de sua platéia não sobreviveu a um inesperado incêndio que devastou a cidade de Chicago, antes do domingo seguinte, prazo final previsto para a tomada de decisão do rebanho.

             JAMAIS deixe para domingo o evangelizar, o reencontrar, o segurar a mão.

Deixo Don Moen cantando "When it´s all been said and done"

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