quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A contribuição

"Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento;(...)
Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço,
E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu" Eclesiastes 12:1-7

Para o Tio Márcio
 
Tenho uma amiga que sempre fala em "darmos a nossa contribuição" para as pessoas. A questão é: Até que ponto fazemos realmente a diferença? Até que ponto a nossa boa-vontade ajuda alguém?
É claro que devemos ter crítica, nos aperfeiçoar e auto-conhecer a cada dia, mas há também momentos de agir, de produzir e de acreditar que todo o dom perfeito provém de Deus.
 
Esses dias lia um conto de Andersen e fiquei pensando a respeito. Compartilho aqui a versão em português:
 

O caracol e a roseira

(...) No ano seguinte, o Caracol estava quase no mesmo lugar de antes, isto é, ao Sol e ao pé da Roseira; esta estava cheia de botões, que começavam a abrir-se, mostrando umas rosas magníficas, sempre viçosas e novas. E o Caracol, mostrando meio corpo para fora da concha, esticou seus tentáculos e os encolheu novamente, para voltar a esconder-se.
- Tudo tem o mesmo aspecto do ano passado. Não se vê o mínimo progresso em nenhum lugar. A Roseira está coberta de rosas... Mas nunca fará nada de novo.
Passou-se o verão e logo após o outono; A Roseira dera rosas lindas, até que começaram a cair os primeiros flocos de neve.
O tempo ficou úmido e tempestuoso e a Roseira se inclinou até o solo, enquanto o Caracol se escondia dentro da terra.
Começou novo ano e a Roseira reviveu. O Caracol também apareceu.
- Você já é uma roseira velha - disse o Caracol - de forma que logo secará. Você já deu ao mundo tudo o que havia dentro de si. E se isso valeu alguma coisa, é assunto que não tenho tempo de examinar; mas o certo é que você não fez nada para o seu aperfeiçoamento, senão teria produzido algo diferente. Pode negá-lo? E agora você se converterá numa vara seca e desnuda. Entende o que digo?
(...) - Não - replicou a Roseira - dei flores com a maior alegria, porque não podia fazer outra coisa. O Sol era tão quente e o ar tão bom!... Eu bebia o orvalho e a chuva; respirava... E vivia. Logo me chegava novo vigor da terra, assim como do céu. Experimentava um certo prazer, sempre novo e maior, e era obrigada a florescer. Tal era a minha vida, não poderia fazer outra coisa.
- Você sempre levou uma vida muito cômoda - observou o Caracol.
- Na realidade, sinto-me muito favorecida - disse a Roseira - e, de agora em diante, não vou possuir tantos bens. Você possui uma dessas mentes inquiridoras e profundas e de tal maneira é bem dotado, que não duvido de que assombrará o mundo sem demora.
- Não tenho tal propósito - replicou o Caracol - o mundo não é nada para mim. Que tenho a ver com ele? Já tenho muito o que fazer comigo mesmo.
- Em todo caso, não temos o dever, na terra, de fazer o que pudermos pelo bem dos demais e de contribuir para o bem comum com todas as nossas forças? Que foi que você já deu ao mundo?
- Que foi que eu dei? Que lhe darei? Pouco me importa o mundo. Produza as suas rosas, porque sabe que não pode fazer outra coisa; que as avelãs dêem avelãs e as vacas leite. Cada um de vocês possui um público especial; eu tenho o meu, dentro de mim mesmo. Vou entrar dentro de mim e permanecer aqui. O mundo para mim não é nada e não me oferece o mínimo interesse.
E assim o Caracol entrou em sua casa e se fechou.
- Que lástima! - exclamou a Roseira - não posso colocar-me num lugar abrigado, por mais que o deseje. Sempre tenho que dar rosas e mudas de roseira. As folhas caem ou são arrastadas pelo vento e o mesmo acontece com as pétalas das flores. Em todo o caso, eu vi uma das rosas entre as páginas do livro de orações da dona da casa; outra de minhas rosas foi colocada no peito de uma jovenzinha muito formosa, e outra, enfim, recebeu um beijo dos lábios suaves de um menino, que se entusiasmou ao vê-la. Tudo isso me encheu de felicidade e será uma das recordações mais gratas de toda a minha vida.
E a Roseira continuou florescendo com a maior inocência, enquanto que o Caracol continuava retirado dentro da sua viscosa casa. Para ele o mundo não valia nada.
Passaram-se os anos. O Caracol voltou para a terra e a Roseira também; do mesmo modo a rosa seca no livro de orações já desaparecera, mas no jardim floresciam novas rosas e também havia novos caracóis; e se escondiam dentro de suas casas, sem se incomodarem com os outros porque para eles o mundo não representava nada. Teremos que contar também a história deles. Não, porque, no fundo, não se diferenciariam nada daquilo que já contamos."
 
Ou seja, chega de nos abstermos de agir. De viver. De contribuir.
 
"Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado." Tiago 4:17

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